Não há momento melhor para voltar à ativa. O blog NerdsWorking acaba de ser reintegrado à face visível da Internet a partir deste momento, quando falaremos a respeito da obra mais recente de Guillermo del Toro: Pacific Rim (ou Círculo de Fogo).

 

O contexto

O ano é 2020. O lugar é o dito Círculo de Fogo no meio do Oceano Pacífico, no qual há uma grande fenda entre duas placas tectônicas que dão espaço a uma nova dimensão, um nível ‘abaixo’, perto do núcleo terrestre; De lá saem os chamados Kaiju, monstros de dimensões exponencialmente grandes que causam destruição em massa na superfície terrestre.

O primeiro ataque, no entanto, ocorreu em 2013, quando o primeiro Kaiju emergiu da tal fenda. Como a própria narração descreve, a raça humana só conseguiu parar tal aberração 6 dias e 58 quilômetros depois, quando milhares de pessoas perderam suas vidas. A raça humana não estava preparada. Usufruindo de sua tecnologia mais avançada, os Estados Unidos só conseguiram de fato matar a criatura depois de infinitos tiros de mísseis, e todo tipo de armamento pesado possível, muito tempo depois de tudo ter começado.

O país comemorou. Porém, menos de seis meses depois, a ameaça retornou, sob a forma de uma criatura semelhante, com o mesmo material genético e causando uma destruição ainda maior.

O tempo passou. Os ataques tornaram-se mais e mais recorrentes e a raça humana, enfim, encontrou uma maneira de detê-las com eficácia precisa: pela construção dos Jaegers, robôs de iguais proporções ao tamanho das criaturas controlados de uma maneira bem complexa pelos humanos, através da neuro conexão de duas pessoas que, através dos pensamentos, conseguem coordenar os movimentos de batalha dos Jaegers, além de compartilharem as memórias entre si (algo muito bem explorado no filme). O projeto Jaegers funcionou e por muito tempo foi considerada a melhor maneira de se lidar com os Kaiju. Isso até que as missões começaram a falhar, os Jaegers a serem destruídos e a esperança humana a quase extinguir-se.

Numa última tentativa de reaver o controle, os mantenedores do projeto Jaeger decidem não darem-se por vencidos. Numa última investida para tentar conter a ameaça que destruirá a raça humana, a ofensiva pró-Humana vai com tudo o que pode para cima dos Kaiju, não importa o quê.

No meio disso está Raleigh Becket, um dos controladores de Jaeger que, por eventos ocorridos em sua carreira (não darei spoilers aqui) estava afastado da profissão e que agora aparece como uma das esperanças para voltar à ativa e entrar em combate novamente. Com a ameaça cada vez mais aterradora, há vários embates no decorrer do filme.

Os combates

Sendo a parte mais atrativa, mais emocionante e excepcional do filme, as batalhas entre os Jaegers e os Kaijui farão você se arrepiar na cadeira de cinema. O nível de coligação que o espectador que é fã da ficção científica tem com o filme é simplesmente inexplicável de se descrever. Inexplicável. Guillermo del Toro fez questão de deixar explícito o seu amor à ficção ao dar um trato tão primoroso a essas cenas e dar, além disso, uma ótima estruturação pelo roteiro e aderindo ao lado pessoal dos personagens.

Mas voltando às cenas, tudo é muito inesperado. Repentinamente, os rumos da batalha podem mudar. Vemos as incríveis máquinas humanas contra as criaturas gigantescas arrancando cabeças, braços, canhões de plasma, caudas, jogando caminhões, jogando para o alto, alçando vôo, chegando ao espaço sideral… Utilizando um termo americano: It’s a wild ride.

Os efeitos especiais são incríveis de se ver nas batalhas, assim como a fotografia do filme aparece como um de seus pontos fortes; como o filme se passa em vários lugares ao mesmo tempo, é interessante perceber o tom de dramaticidade, apreensão ou alegria que cada sala, cada metro quadrado ou cada cantinho que aparece na tela que acrescenta algo à cena. Nada parece estar lá apenas por estar. É como se a fotografia funcionasse como um personagem próprio da trama.

Personagens

A estruturação emocional de cada um dos personagens na trama é, também, um de seus pontos fortes. Não há só a questão de vários robôs gigantes se explodindo no meio do Oceano Pacífico. Não. O filme vai além. Não é um conjunto de explosões ou de efeitos que faz Pacific Rim ser tão primoroso quanto de fato é. Isso é o que causa tanta identificação com o espectador, algo que, em outros filmes, não existe e faz muita falta.

Há a questão recorrente do compartilhamento de memórias e experiências pessoais durante o uso dos Jaegers, como na vez em que Raleigh, um dos personagens principais, entra num Jaeger com Mako e um fragmento da memória dela é mostrado na tela, num dos momentos mais tocantes do longa. É alternando cenas  como essa, da questão da personalidade dos personagens, do porquê as coisas funcionam como funcionam que Pacific Rim torna-se ainda mais grandioso. Ele deixa mais que claro o seguinte: se a humanidade não unir-se e deixar as rivalidades de lado, não há de sobreviver.

Não só com Mako, essa estruturação funciona em cada um de uma maneira diferente, demonstrando, ao fim de tudo, que a união faz a força. Todas as disparidades precisam ser esquecidas para que tudo dê certo. O filme dá muitas lições de moral, principalmente em seus momentos de clímax (e são vários). Não há como definir um só clímax, já que a sucessão de fatos do segundo para o terceiro ato é tão intensa, tão marcante e tão incrível que acaba sendo algo indefinível por natureza, mas não é um aspecto negativo do filme, nada disso.

Alternando as cenas de ação intensa, de construção emocional dos personagens e de alívio cômico, Pacific Rim torna-se simplesmente uma obra-prima, em vários sentidos diferentes. Melhor que qualquer filme deste ano em qualquer aspecto e simplesmente incrível. Simples e puramente incrível.

Quando o fim do filme se aproxima, se o aspecto dos robôs já era grande, aumenta exponencialmente. O discurso do Marechal aos seus comandados na base da Resistência é de arrepiar, e uma das frases mais marcantes:

‘TODAY, WE’RE CANCELLING THE APOCALYPSE!’- ‘HOJE NÓS VAMOS CANCELAR O APOCALIPSE!’.