Os filmes de 007 sempre foram marcados por vários motivos. Durante os longos 50 anos de história da franquia cinematográfica que começou lá atrás com Sean Connery, o agente mais eficiente do M16 sofreu várias mutações, várias transformações, todas elas de acordo com a época em que o filme em questão estreava nos cinemas. Cada um dos 20 filmes anteriores à ascensão de Daniel Craig ao cargo foi marcado por algum aspecto em específico, mas em todos eles, a alma de 007, a alma de James Bond fervia incessantemente.
Em 007-Operação Skyfall (Skyfall, 2012) não foi diferente. O filme num todo é uma junção de todos os elementos que tornaram 007 o agente que ele é com aspectos da atual realidade mundial e também da renovação que os estúdios estão trazendo para a série.
Já começa de modo magnífico.
Os primeiros acordes de Adele já evidenciavam a grande história que ainda estava por vir. Os vocais da britânica pareceram estar mais afinados que nunca, e combinaram muito bem com a famosa cena de introdução depois de uma cena inicial. A música-tema é simplesmente perfeita. Tanto na letra quanto na musicalidade, ela já dá um ar épico à película que está lá. A atmosfera de melancolia também é perceptível nesses primeiros vocais, que já preparam terreno para o fim do filme.
Como é de praxe, o filme começa com uma cena extraordinária de perseguição. Assim como nos filmesanteriores, James Bond persegue um bandido, só que desta vez pelas ruas movimentadas de Istambul, atrás de uma lista roubada com o nome de todos os agentes que os membros da OTAN tinham infiltrados em empresas multinacionais de outros países. A perda desta lista para inimigos poderia significar o início de uma grande revolta mundial contra esses países e, possivelmente, uma guerra.
A pessoa apontada por ser a causadora de tudo isso?M. A diretora de operações do MI6 foi responsabilizada pela perda dessa lista e é colocada contra parede, sendo pressionada por todos os lados, ora por sua eficiência, ora por alguns atos seus que ocasionaram o tal acontecimento, inclusive um que é vital na vida de James Bond. Mas M não sucumbe, e promete terminar o que começou.
– Eu não quero sair quando ainda me resta dignidade. Quero sair quando tiver terminado tudo isso. Não posso sair deixando o MI6 em pior estado do que o encontrei.
Bond, no meio desta história toda, aparece como a pessoa que pode acabar com essa crise dentro do Serviço Secreto Britânico, mesmo ainda tendo que lidar com o que havia lhe acontecido ainda nos primeiros minutos de filme.
Assim, a história toda se desenrola ao longo de – muito bem cadenciados- 143 minutos. Durante todo esse tempo, o diretor Sam Mendes conseguiu fazer algo esplêndido, digno de um filme de 007. Depois de 22 filmes, era de se esperar que as histórias de James Bond já estivessem no fim, mas o diretor prova que não.
Usufruindo de elementos atuais, de cenários atuais, de situações atuais e do que é demandado atualmente pelo público, Skyfall flui muito bem na mente de seus espectadores. Mendes ainda dá um real valor à palavra espectador, pois faz todos quererem saber o que vai acontecer a seguir, a cada cena que muda desde o início até o fim do filme. Vale destacar a grande variabilidade de cenários e de locais que foi utilizado no filme; É um cenário mais magnífico que o outro. A cada tape diferente, um novo cenário é projetado nas telas, renovando a expectativa, renovando a narrativa, renovando a vontade de ver o filme. E isso é só ajuda. Os lindíssimos cenários que são postos à vista são de impressionar; a fotografia de Skyfall é algo feito de maneira extremamente cuidadosa, e é possível de se ver isso em vários momentos do filme, como na parte do prédio em Shangai.
Como se não bastasse tudo isso, Mendes ainda fez questão de adicionar os elementos clássicos que estavam presentes noutros filmes. Adicionar não, eu diria resgatar. O modo como isso foi mostrado se mostra extremamente simples e eficiente, fácil de ser percebido por quem vê o filme. Seja o Aston Martin DB5, seja a arma de Bond, esses elementos costuram a teia de 007 dentro da narrativa, combinando muito bem com o roteiro muito bem amarrado do filme.
Ora com enredo de drama, ora com enredo de ação, ora com enredo de humor, é difícil de se saber que você ficou duas horas e vinte minutos assistindo a Skyfall quando você sai da sala de cinema; o tempo parece não passar. A riqueza da história é tanta que o tempo se torna irrelevante ao espectador. Aliás, o humor que é imprimido- mais que nunca- nessa história de 007, se faz essencial para que esse efeito ocorra.
Vale destacar a atuação de Javier Bardem como o Silva, grande vilão do filme. Muito disso é por causa das sacadas humorísticas que ele imprimiu ao personagem, adicionando ainda mais na sua maleficência e em seus tons de sadismo. Mesmo no vilão, ainda há uma perceptível releitura de obras passadas de 007, porque ele- também- possui um tipo de ‘qualidade’ atenuante, que somente acentua a sua bizarrice.
Daniel Craig se prova ainda mais como um dos melhores 007 da história, muito disso por causa de uma possível já adaptação do espectador em vê-lo como o agente do MI6, além de sua extrema eficiência como o grande ator que é. Judy Dench, a anfitriã da franquia, é parte monumental na trama, muito por causa de sua personagem, que nunca esteve tão próxima a um conflito como agora. Com o passar dos anos, ela foi dando uma forma a M, que teve que ser drasticamente mudada nesse filme, justamente por causa da posição de M na história.
Skyfall é o melhor filme da franquia 007, e o que é ainda melhor: dá um novo fôlego a ela, para, quem sabe, mais 50 anos de história. James Bond voltará em breve.
E com prazer.
Ouça a música-tema incrível: