‘O Artista’ estreou em 10 de fevereiro no Brasil. E vale muito a pena.

Às vezes, sempre criticam algo quanto ao estilo de como a Academia escolhe os seus critérios na hora de escolher quem será nomeado e quem ganhara o tão famoso ‘Oscar’, que dispensa ‘apresentações’. Mas nesse ano que passou, especialmente, pôde-se criticar muitas obras que concorreram na categoria de Melhor Filme, como por exemplo o ‘sem sal’ de Spielberg, Cavalo de Guerra (War Horse, 2011).  Por outro lado, há as nomeações incontestáveis, como a de ‘A invenção de Hugo Cabret’ (Hugo, 2011) e também o de qual vou comentar um pouco hoje, o ganhador da categoria, um filme que teve produção francesa e americana e que é mudo, “O Artista” (The Artist, 2011). Se está em dúvida sobre se realmente o filme vale a pena e se deve assisti-lo, por favor, o faça o mais rápido possível.

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Leia a análise completa do filme.

O filme, estrelado por Jean Dujardin, que faz o papel principal da trama, é um daqueles filmes que simplesmente não tem como se criticar de forma ruim. Simplesmente isso. No filme, George Valentin (Jean Dujardin) é um famoso ator do cinema mudo, em 1927, quando esse tipo de entretenimento tinha muito prestígio da população; Logo no começo, numa sala de cinema, um filme estrelado por George está sendo exibido, e uma multidão o assiste e depois o aplaude grandiosamente, embora os espectadores de ‘O Artista’ não possam ouvir nada além da trilha sonora do filme, o que lhes pode parecer um pouco estranho, afinal, é a primeira ‘demosntração’ de que o filme é mudo.

Pode até parecer estranho que um filme mudo seja tão bem falado como ‘O Artista’ está sendo. Mas a verdade é que o filme é uma ‘homenagem’ aos velhos tempos do cinema, e que consegue causar impacto em todos que o assistem. Mesmo aqueles aficionados pelo cinema mudo que antes existia; é claro que há algumas inspirações em clássicos da categoria, mas isso não o torna um filme como qualquer outro. ‘O Artista’ é especial. Michel Hazanavicius o tornou especial, a seu modo. O diretor disse que sempre quis fazer algum projeto como esse, que hoje é uma realidade. Aliás, uma realidade magnífica na qual não é possível que o espectador não se emocione com as cenas que o personagem principal passa por maus bocados.

Cena de ‘O Artista’.

Direi-lhes por quê: em 1927, George Valentin está no auge de sua carreira como ator profissional, sendo muito bem reconhecido por todos os que assistem ao seus filmes. Depois da exibição de um deles, Valentin se esbarra com Peppy Miller (Bérénice Bejo). Há uma certa ‘tensão’ no ar, já que essa cena se passava logo depois de uma sessão com um filme de George e que aconteceu na saída do cinema, com a mídia da época fazendo cobertura. Mas depois desse momento, o ator sorri e contagia a todos em sua volta, até mesmo a Peppy, que se sente tão feliz que acaba beijando-o na bochecha. Na cena seguinte, a capa nos jornais retratava a influência da mídia no cotidiano: ‘Quem é essa mulher?’. Tal acontecimento ganhou tanto destaque que o filme em si (que talvez teria que ser o assunto principal nas manchetes), ganhou pouco destaque, ficando apenas na 5ª página. Peppy faz um teste na Kinograph e é escolhida por George para estrelar seu filme com a produtora. Mas, durante as gravações, ele não consegue se concentrar em nada mais e acaba se distraindo sempre que se encontra com Peppy dentro da cena, que tem que ser regravada diversas vezes,sempre com George se distraindo, revelando óbvios sentimentos pela jovem (depois, descobre-se qu eé um sentimento recíproco).

Na trama, então, Peppy Miller começa a crescer como atriz, a crescer mais e mais dentro do cinema, até que é convidada a fazer algo grande, e passa a fazer filmes falados. Com essa mudança radical, todos os olhos recaem apenas sobre essa ‘nova geração’ de filmes, quando George teme ter se tornado obsoleto no meio artístico e é demitido da empresa que produzia seus filmes, a Kinograph. Enquanto George afundava, Peppy crescia.

No final das contas, Peppy Miller vira uma grande atriz.

Logo depois, George faz sua própria produção cinematográfica, e chama Peppy para estrelá-la junto com ele, sendo que a atriz em ascensão (nesse momento) fazia os dois tipos de filme, mudos ou falados, o que muda com o passar do tempo na história. Com tal mudança, George fica arruinado. Seus maiores temores viram realidade. Sem nenhuma esperança de que um dia possa voltar às telas. O personagem passa a refletir sobre seu trabalho, suas escolhas, seu orgulho ( que o atrapalha muitas vezes durante a trama) e principalmente sobre as palavras, que o desbancaram dos holofotes. Ainda mais que isso, George se vê sozinho no mundo, já que sua esposa o havia abandonado alegando que não estava feliz com ele. Brilhantemente, Michel Hazanavicius conseguiu deixar claro esse sentimento, mostrando numa rápida transição de câmeras, que sucediam s dias, a rotina do tempo que George passava com sua esposa. Ou seja, os dois sequer se comunicavam, por exemplo, no café da manhã. Agora sem mulher, e sem trabalho que o sustentasse, só restou a ele seu leal cachorro, que salva sua vida num momento vital do filme, e seu empregado, Clifton, que demite depois de um ano sem lhe pagar seu salário. Agora, Geoge vivia numa casa simples, e teve que penhorar todas as suas coisas. Estava no fundo do poço.

O que nos leva ao clímax, em que os espectadores realmente torcem para que tudo dê certo na vida do ator. Ele tem uma ataque de fúria, e taca fogo em suas ‘rodas de filme’, e por fim, sem intenção, em sua casa. O homem só foi salvo devido à lealdade de seu cão, que alertara a um policial que estava por perto na hora do incêncio. Essa é uma das várias ‘demonstrações de companheirismo’ que o filme nos passa ao longo de sua exibição, o que ocorre também noutras cenas em que Peppy faz de tudo para ajudar George, mas o orgulho desse não aceita tal tipo de condescendência por parte (da agora) atriz super famosa, que sempre tentou estar ao lado de George durante a sua decadência como profissional. E até mesmo como pessoa. E mesmo que não haja um beijo sequer entre os dois, é possível ver a química existente entre eles, que acaba comovendo a quem assiste ao filme, ainda mais no momento mas sério do clímax no enredo, sobre o qual não vou falar para que você, que está lendo agora, não perca o que há de vir assim que assistir o filme. No final, há uma reviravolta exemplar e inesperada no filme por todos que o assistem. O que posso afirmar sobre o final é que algo que acontecera no início do filme colocou o artista de volta ao topo, de forma brilhante, emocionante e realmente surpreendente.

Uma das cenas finais do filme

‘O Artista’ mereceu ser nomeado. E mais importante: mereceu vencer todas as 5 estatuetas do Oscar ( fora indicado a 10 categorias), pelo trabalho de Ludovic Bource, que conseguiu fazer um trabalho magnífico, onde todas as músicas se adaptavam perfeitamenet ao enredo; pelo trabalho de Michel Hazanavicius, pela grande iniciativa e pelo belo filme que fez;  pela esplêndida atuação de Jean Dujardin, que com certeza veremos em muitos outros sucessos futuramente; pelo ótimo figurino do filme, por conseguir ‘adaptar’ as vestimentas remetendo à decada de 1930; e pelo grande fenômeno que esse filme se tornou, dando um exemplo de como um filme mudo francês pode ser ( não apenas considerado, pois ‘considerar’ pode ter sentido ambíguo, coisa que o filme não é, afinal, foi realmente o melhor filme ) tão brilhante, emocional e marcante, mostrando o auge, a ‘queda’ e a nova ascensão de George Valentin. O desfecho da história é realmente brilhante.

‘O Artista’ é incontestáve, em todos os sentidos. Simplesmente magnífico. O cinema mudo é homenageado grande e honrosamente. Não é possível dar uma nota de 0 a 10 a esse filme; ultrapassa os limites da nota máxima. Maravilhoso como um filme consegue reunir tantas emoções, tantas afeições, tanta inteligência numa obra só. Com certeza, não consegui retratar um filme como um todo, pois ele abre as portas para várias possíveis interpretações, mas o importante é que se entenda o quão tocante e profundo é esse filme.

George Dujardin: prêmio mais que merecido pela sua atuação magnífica, incrível e fascinante.

Confira as indicações e premiações ao Oscar:

Ano Categoria Premiados Resultado
2012 Melhor Filme The Artist Venceu
Melhor Diretor Michel Hazanavicius Venceu
Melhor Ator Jean Dujardin Venceu
Melhor Atriz Coadjuvante Bérénice Bejo Indicado
Melhor Roteiro Original Michel Hazanavicius Indicado
Melhor Edição Anne-Sophie Bion e Michel Hazanavicius Indicado
Melhor Direção de Arte Laurence Bennett e Robert Gould Indicado
Melhor Fotografia Guillaume Schiffman Indicado
Melhor Figurino Mark Bridges Venceu
Melhor Trilha Sonora Ludovic Bource Venceu